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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Óleo elétrico




Óleo elétrico!!!? – A cara de espanto que meu neto fez chegou a me surpreender. Estávamos conversando sobre futebol e mencionei o assunto, de passagem, casualmente. Mas, ele me interrompeu e fez aquela expressão que avós adoram ver nos netos: – Óleo elétrico!!!?
Pois, é, óleo elétrico. É como a gente chamava aquele óleo que era usado na massagem das pernas dos jogadores, no vestiário, antes de entrarem em campo. Isso pelos anos 1950, 60. Em Catanduva e em todo o interior, quando o time entrava em campo, as pernas dos jogadores brilhavam com o sol, massageadas com óleo elétrico.
Quando, ainda amador, comecei a treinar e depois a ficar na reserva do time profissional, me sentia super-importante, quando o massagista me chamava: era minha vez de receber massagem nas pernas com o óleo elétrico. Eu achava aquilo o máximo: jogador “de verdade” precisava ter as pernas brilhando de óleo elétrico! Até hoje posso reconhecer imediatamente aquele cheiro forte, puxando para o eucalipto.  
O óleo elétrico existe até hoje. É uma mistura de cânfora, mentol e alguns outros ingredientes. Serve para umedecer e aquecer regiões musculares doloridas e para ativar a circulação. Diziam que era preciso usar para não ter cãimbras. É provável.
Mas, havia também um folclore em cima daquilo. Ainda criança, ouvi de um amigo que, uma vez massageado com o óleo elétrico, o jogador precisava jogar, ou pelo menos deixar passar um tempo, antes de tomar banho, porque era … perigoso! O Nico, meu amigo de infância jurou-me que era verdade. Disse que o Santiaguinho, ponta-esquerda do Catanduva, não ligou para isso, foi tomar banho em seguida e ficou quase um ano com as pernas paralisadas.
O adjetivo “elétrico”, que qualifica esse óleo, pode ser responsável por essa crença em seu poder “milagroso”, para o bem e para o mal. Se Santiaguinho foi tomar banho logo depois da massagem, deve ter tido algum choque terrível pelo contato com a água fria, já que o óleo é “elétrico”!
Nunca soube se o caso tinha ou não acontecido. O fato é que mais tarde joguei com o Santiaguinho, ele já em fim de carreira, mas nunca me ocorreu perguntar a ele se de fato havia parado de jogar por tanto tempo e, caso sim, se o óleo elétrico tinha tido algum papel nessa história.  
Mais tarde fui pesquisar um pouco o assunto e descobri que o tal óleo tem fórmula similar à daqueles óleos “milagrosos”, vendidos desde fins do século 19 por camelôs e outros comerciantes, nas áreas rurais e pequenas cidades, com a promessa de curar qualquer coisa, de tendinite a dores na coluna, de reumatismo a lumbago.
Esse produto, depois copiado no Ocidente, surgiu primeiro na China, onde parece que o óleo era produzido com gordura de cobra d’água. No Oeste dos Estados Unidos, em meados do século 19, era grande a quantidade de imigrantes chineses trabalhando na construção das ferrovias que cortavam o país de lado a lado.
Os chineses eram extremamente dedicados e obedientes, o que fazia deles os empregados favoritos dos engenheiros americanos. Eles trouxeram o tal óleo para nosso continente. E os charlatães que viajavam pelo Oeste em carroções, vendendo remédios “milagrosos” aos desavisados nos povoados, chamavam a esse produto, justamente, “snake oil”. Na sua versão brasileira, provavelmente não foi difícil que se passasse a dizer que o produto era extraído do peixe-elétrico, dada a semelhança deste peixe com as cobras. Daí é que vem o “elétrico” no nome do óleo: do peixe elétrico!  
Nos anos 1940 e 50 muitos massagistas de times brasileiros preparavam eles próprios o “óleo elétrico” que usavam para massagear os jogadores – usando uma mistura de linimento de Sloan com óleo Nujol. Linimento é o nome que se dá a um medicamento usado para reduzir as dores musculares; e o linimento de Sloan, um produto de origem americana, mas já fabricado no Brasil, era barato e fácil de encontrar nas farmácias, nessa época. Por sua vez, Nujol era (e é) a marca de um óleo mineral indicado como laxante, mas também usado para hidratar a pele. Usei muito no cabelo, como fixador.  

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