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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Dieta vegetariana para atletas


Triatletas, ciclistas e ashtangis hardcore estão no time de atletas que provam a dieta vegetariana como opção campeã.


Quando Scott Jurek, 32, de Seattle, se abastece para uma ultramaratona de 81 km, ele toma um smoothie (tipo de vitamina, shake de frutas) feito com peras, bananas, maçãs, espirulina e abacate. Um pratão de massa temperada com alho e azeite de oliva acompanhado de vegetais frescos é o jantar de véspera de corrida da ciclista profissional Christine Vardaros, 36, de Mill Valley, Califórnia. A triatleta Ruth Heidrich, de 71 anos, de Honolulu, opta por uma salada verde com papaia, manga, bananas e frutas vermelhas antes de competir.

Você nunca encontrará na lista de compras desses atletas coisas como carne, ovo ou laticínios. Jurek, Vardaros e Heidrich são vegans. E se você pensa que uma dieta vegan pode comprometer a demanda física deles, confira os resultados: Jurek é o recordista da Western States Endurance Eun, uma corrida de 161 km em trilha acidentada. Vardaros é o número 32 no ranking mundial de ciclismo e Heidrich já ganhou mais de 900 medalhas em corridas.
Essas pessoas levam o esporte ao extremo – e, para alguns, a dieta alimentar também. Vegans não comem nenhum tipo de carne e nenhuma comida derivada da produção animal, incluindo laticínios e ovos. Alguns não consideram nem o mel na dieta.

Nos EUA, os vegans representam metade do grupo de vegetarianos. Uma razão para o interesse crescente no veganismo é a evidência de que uma dieta baseada em pouca gordura, vegetais e combinada com Yoga e meditação pode reverter quadros de doenças do coração e estacionar ou até reverter casos de câncer de próstata ou de mama, segundo o guru norte-americano da saúde Dean Ornish, professor de medicina na Universidade da Califórnia, em San Francisco. “Uma dieta com pouca gordura e colesterol requer menos processamento feito pelo corpo, então é fácil ficar forte para exercícios pesados ou contra doenças”, diz Ornish.

ALTO DESEMPENHO
Kathy McCrary, 41, de Washington, pratica duas horas de Ashtanga Yoga por dia, seis vezes por semana. Ela diz que o princípio yóguico ahimsa, ou não-violência, a levou naturalmente ao veganismo. “Sinto que, ao não contribuir com a pecuária, não causo danos a mim mesma nem prejudico o meio ambiente”, afirma.
Kathy enriquece a sua dieta com sementes, grãos, frutas frescas e vegetais. Sua refeição favorita é uma sopa africana com feijões, batatas-doces, cebolas, pimenta, tomates, pimentões, manteiga de amêndoas e temperos. “Com essa dieta, sinto-me leve e forte a cada postura que faço”, conta.
Jurek cortou a carne de sua dieta quando leu o livro Mad Cowboy, de Howard Lyman – foi o mesmo livro que fez a apresentadora Oprah Winfrey parar de comer carne. A praticante garante que a dieta vegetariana a ajuda a ligar a prática física a um campo mais espiritual.

Heidrich tinha 47 anos quando descobriu um câncer de mama. Começou uma pesquisa sobre como uma dieta com poucas gorduras poderia influenciar na doença. Os estudos a levaram ao veganismo e a uma ótima recuperação em alguns meses. Seu tumor parou de crescer e as dores desapareceram. Ela mantém a dieta há 24 anos, e seu check-up anual indica que ela está muito bem.
Todos esses atletas sentem-se melhor desde que tiraram produtos animais de sua alimentação. Jurek não sente o corpo tão dolorido depois de treinos pesados, Vardaros diz que raramente fica doente e Heidrich alega ter muito mais energia. Logo depois que virou vegan, concluiu a sua primeira prova de triathlon (1,5 km de natação, 40 km de bicicleta e 10 km de corrida).

SEM BARREIRAS
O pensamento à moda antiga sugere que atletas extremos precisam de grandes porções de proteínas – lembra a moda de ovos crus no suco de laranja?
É verdade que alguém como Jurek precisa de bastante combustível para treinar (ele corre de uma a duas horas todos os dias, e faz sessões semanais de musculação e de Yoga). Quando se tornou vegan, não tinha certeza de que a dieta seria suficiente, mas como continuou ganhando corridas e sentindo-se bem, descobriu que a alimentação funcionou. Sua base está em vegetais e frutas, grãos integrais, sementes e nozes e luxos como sua sobremesa preferida: torta de maçã ou de pêra com massa crocante de noz-pecã e cobertura de creme de castanha-de-caju. “Vi que meu medo de não conseguir nutrição suficiente era apenas uma barreira psicológica”, conta Jurek.

FAÇA MAIS, COMA MAIS
Muitos dos atributos que melhoram a saúde do veganismo não são relacionados diretamente à eliminação de ingestão de produtos animais, mas ao aumento do consumo de vegetais, diz Cynthia Sass, que responde pela American Dietetic Association (ADA) e é professora de nutrição do esporte na Universidade da Flórida.
“Entre os americanos, 75% não conso- mem as cinco a nove porções recomendadas de vegetais por dia. E são raros os vegans que não atingem a quantidade adequada”, diz.
É claro, atletas têm necessidades nutricionais diferentes de uma pessoa com hábitos normais. Quem usa mais o corpo, como um atleta, precisa de mais carboidrato, mais proteína e mais água. E isso é fácil de resolver: coma mais e beba mais.

Considerando que os carboidratos são a fonte de energia preferida do corpo, a dieta de um atleta deve incluir uma alta porcentagem deles – cerca de 60% –, enquanto não-atletas devem ter 50% em sua dieta, segundo a ADA.
A proteína, que ajuda na regeneração, na cura e na reparação dos músculos, é também essencial. Um não-atleta que pesa 68 kg precisa de 54 g de proteína diariamente, enquanto um atleta com esse mesmo peso precisa de 82 a 92 g. Obter essa quantidade não é difícil em uma dieta vegan. Meia xícara de lentilha ou de tofu picado já têm 10 g de proteína. Feijões, sementes e grãos são todos boas fontes de proteína. E, embora a carne seja celebrada por seu espectro completo de aminoácidos necessários, os vegetais proporcionam toda essa qualidade de aminoácidos em porções variadas.

Se você é um atleta vegan, deve consultar um nutricionista para ajudá-lo na escolha dos alimentos. Vegans precisam de tempo e dedicação. Mas pense na nutrição como parte do seu treino para ser uma pessoa saudável e equilibrada, como Jurek: “Se corro bastante, tenho de me preparar – física, mental, espiritual e também nutricionalmente”.


Rachel Seligman é jornalista freelance e mora em São Francisco

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