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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fibromialgia arrasa sua saúde e confunde os médicos


Síndrome causa dores insuportáveis, tristeza e perda de memória

Imagine que você passou horas apertado dentro de uma caixa, sem espaço para se mexer ou respirar direito. Pense como essa situação fragiliza seu corpo e sua mente: todos os seus músculos ficam doloridos e dormentes, seu pensamento é dominado por um misto de ansiedade e depressão. A cabeça parece pesar 200 quilos e você começa a apresentar dificuldades para dormir e executar tarefas comuns. A memória começa a falhar e a concentração diminui. A descrição lembrou um filme de terror, com requintes de tortura?

Antes fosse. É assim que se sentem os portadores de fibromialgia, explica Ana Márcia Proença, educadora física e terapeuta corporal que atende pacientes com o problema que, atualmente, vitima principalmente as mulheres. Os portadores desta síndrome dolorosa de origem ainda desconhecida costumam enfrentar uma maratona até chegar a um diagnóstico, normalmente é difícil e demorado. Com predominância entre o sexo feminino (cerca de 80% a 90% das pacientes são mulheres entre 30 e 50 anos), as pacientes costumam chegar ao consultório médico com no mínimo três dos seguintes sintomas:

Dores fortes e difusas nos músculos, tendões, ligamentos e articulações por mais de 3 meses
Fadiga e distúrbios de sono
Sensação de queimação e/ou contrações espasmódicas nos músculos
Hipersensibilidade ao toque
Dificuldade de concentração e perda de memória
Enxaquecas crônicas TPM forte, com náuseas, fortes alterações de humor e dores abdominais
Problemas digestivos como diarréia, intestino preso e gases
Disfunção Temporomandibular (na lateral da testa e no queixo, perto das orelhas) ou algum desconforto ou dor constante na mandíbula
Dormência e formigamento
Ansiedade e depressão

Ser portador de Lupus Eritematoso Sistêmico, Síndrome da Fadiga Crônica, osteoartrose, Artrite Reumatóide, hérnia de disco ou osteoporose

Diagnóstico, outro calvário

Mesmo com todos os sintomas, o diagnóstico muitas vezes é complicado, confundido com outras enfermidades ou tratado como algo emocional e não uma síndrome real. Existe uma dificuldade no diagnóstico e o preconceito de alguns profissionais que, às vezes, acreditam que a paciente não tem nada, acontece principalmente porque, apesar de reclamarem de muita dor muscular em reação ao toque e/ou movimento, não há evidências clínicas de qualquer lesão nos tecidos.

Ou seja, nos exames não aparece nenhum problema visível nas articulações ou músculos. Na prática, o paciente perde a capacidade de regular a sensibilidade dolorosa. Os níveis de produção de serotonina (neurotransmissor responsável pela liberação de alguns hormônios, controle da dor, sono e apetite, entre outros) diminuem e surge a hipersensibilidade a estímulos que normalmente não causariam dor. "Eu me sentia cansada o dia todo, já acordava fatigada", conta a alemã naturalizada brasileira Christel Hunsaker, 63 anos. "E a dor foi aumentando, chegou num ponto em que nem saía mais, de tanto que doía". Demorou mais de um ano para me diagnosticarem com fibromialgia, revela.

Causas da síndrome

Segundo o chefe do ambulatório de fibromialgia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Eduardo S. Paiva, os estudos apontam para uma origem genética. Mas ainda não existe evidência de que um único gene seja responsável por todos os sintomas. "Além disso, muitas vezes a bagagem genética necessita de um gatilho ambiental, como um estresse físico ou psicológico", afirma. Já as terapias corporais têm um ângulo complementar para avaliar o surgimento da síndrome.

Os músculos carregam nossa história de vida, nossa memória afetiva, sentimentos, pensamentos e reações, externalizadas ou não. "A serotonina, substância associada a esse quadro, não é apenas a responsável química pela transmissão da dor, mas também pela nossa capacidade de sentir prazer", analisa Ana Márcia Proença. Concordar com tudo, negar nossas raivas e ressentimentos e a necessidade de agradar os outros em detrimento de nossos próprios anseios e necessidades tornam as mulheres mais suscetíveis ao desenvolvimento dessa síndrome. "É algo que vai além de questões hormonais", diz a terapeuta.

Dá para aliviar, pelo menos?

Mas e o tratamento? Como ainda não se sabe o que causa o transtorno e as dores são crônicas, mas não inflamatórias, os tratamentos acabam sendo mais paliativos. Depende do médico, mas as opções mais utilizadas são os medicamentos contra a dor, que melhorem a qualidade do sono e anti-depressivos, além de terapias corporais e ocupacionais. As principais opções de tratamento incluem:

Medicamentos para aliviar a dor, diminuir a ansiedade e regular os neurotransmissores (sempre receitados pelo médico) Programa de exercícios e condicionamento físico para fortalecer a musculatura
Terapia para compreender os mecanismos internos e promover a solução de conflitos
Relaxamento ativo e passivo para diminuir a tensão muscular
Massagem (shiatsu, ayurvédica etc)
Práticas de yoga e tai chi
Calatonia (tratamentos com toques sutis pelo corpo)

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