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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O ácido lático

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Uma questão muito recorrente hoje em dia diz respeito à dor muscular e sua relação com ácido lático. Afinal, o que é ácido lático? É a mesma coisa que lactato? E a dor muscular do dia seguinte ao treino, qual sua explicação? Basicamente baseado nestas perguntase algumas outras questão envolvidas neste contexto é que será discorrido ao leitor neste artigo.

Por muito tempo se acreditou que ácido lático teria o mesmo significado de lactato, sendo este o responsável pela acidose ocasionada nos músculos quando submetidos a uma atividade física intensa. O processo de formação do ácido lático era chamado, em grande parte das doutrinas de bioquímica, de fermentação lática, razão pela qual, muitos autores associam a acidose muscular com a formação do ácido lático.
É certo que inúmeras pessoas fazem uma confusão entre o ácido lático e o lactato, e basicamente essa confusão começa a ser identificada quando se analisa o processo glicolítico, onde o produto final é o lactato, e não o ácido lático. Sendo assim, cumpre esclarecer que o lactato e o ácido lático são substâncias parecidas, porém diferentes.
Vamos nos valer agora da explicação valiosa da teoria ácido-base do ilustre Brönsted, juntamente com Thomas Martin Lowry:
Ácido é qualquer espécie química que exiba tendência a doar protões (íons H+);
Base é qualquer espécie química que exiba tendência a receber protões (íons H+).

Neste sentido, para que se forme um ácido, é necessário conter em sua estrutura COO + OH e isso não se pode observar na molécula de lactato, mas pode ser verificado no ácido lático. A grande diferença é, pois, a falta de H+ no lactato. Importante observar que em um primeiro momento se tem o ácido lático, que ao perder prótons, fica com a carga negativa, ligando-se a um íon como Na ou K, formando o lactato.
Henderson-Hasselbalch foram mais longe ainda, analisando a relação de pH, e por conseguinte, concluíram que num pH como o do corpo humano, ainda que fosse produzido ácido lático, o mesmo seria dissociado rapidamente na substância do lactato, motivo pelo qual, o ácido lático não é responsável pela fadiga muscular, nem o lactato.
Não entrarei em muitos detalhes acerca do processo de glicólise, pois não é essa a intenção do artigo, fundamental é esclarecer que reconhece-se hoje que o ácido lático não é um vilão, porquanto possui importantes funções dentro do metabolismo, sendo uma ferramenta essencial para o fornecimento de energia e o aumento da resistência em situações extenuantes.
Mas GPA, diversas vezes li que a dor que aparece após a atividade física intensa, normalmente no período de 24 a 48 horas após a prática do exercício, está relacionada ao acúmulo de ácido lático. Caro leitor(a), é neste ponto que quero chegar e mostrar a você(s) que este é um conceito já ultrapassado, que está sendo superado por diversos estudos e já é, de inúmeras formas, comprovado.
Destarte, como já foi tratado em diversos artigos no Treino Pesado, essa dor muscular do dia seguinte, que tem natureza transitória, é fruto justamente do quadro inflamatório do tecido muscular e não tem a ver com a intoxicação das células pelo ácido lático. Alguns dos estudiosos supramencionados e outros que não foram exemplificados concluem que o ácido lático é eliminado cerca de duas a três horas após o término do exercício, ou seja, o ácido lático é responsável apenas pela dor momentânea, durante o exercício.
Esse processo de natureza inflamatória, resultado das micro-lesões ocasionadas durante o treinamento intenso traz, obviamente, a dor muscular, além disso, pode ocasionar edemas, perda na amplitude do movimento, perda de força no músculo afetado. Peculiar neste processo inflamatório é a liberação da enzima CK (Creatina Quinase) na corrente sanguínea, dado o “rompimento” de membranas celulares presentes nos músculos.
Podemos verificar, então, que a prática do exercício intenso abrange dois períodos:
Período imediato e dias posteriores.
O efeito imediato constitui pelos micro-traumas nas fibras musculares, o acúmulo de ácido lático e a dor momentânea, transitória, ao passo que ao(s) dia(s) seguinte(s), serão atribuídos apenas a dor, devido à inflamação, sem o acúmulo de ácido lático.

A inflamação nada mais é que a reação do tecido muscular a uma agressão, agressão esta que foi intensa. Isso significa que ninguém esta imune às dores musculares tardias, porquanto sempre que a fibra muscular for submetida a um treinamento diferenciado, mais intenso, mais desgastante, os micro-traumas ou micro-lesões de certo acontecerão, razão pela qual ocasionarão um pequeno processo inflamatório, como foi referido acima.
A partir de tudo que foi explicado, podemos concluir que a dor muscular aguda e IMEDIATA decorre do acúmulo de ácido lático no músculo, que será eliminado pouco tempo após o término da atividade.
Já a dor muscular tardia é a conseqüência do processo inflamatório, onde a fibra muscular necessitará de recuperação a fim de se tornar mais forte com o objetivo de agüentar novos estímulos intensos, ou seja, faz parte de um mecanismo de remodelamento.
Muitas vezes essa dor é tão intensa que acaba atrapalhando as atividades triviais de nosso dia-a-dia, mas é necessário tomar muito cuidado quando essa dor deixa de ser suportável, pois aí podemos estar diante de uma lesão e não uma micro-lesão ao tecido muscular.
Existem algumas técnicas que podem ser utilizadas para minimizar as dores musculares tardias, muitas delas controvérsias, algumas mostrando até a ineficácia, algumas funcionais, enfim. Dentre essas técnicas podemos citar a aplicação de gelo no local, a utilização de antiinflamatórios, que irão inibir a atuação das prostaglandinas, responsáveis pela sensação de dor ocasionada. A utilização de antiinflamatórios normalmente é feita após o exercício, mas há estudiosos que afirmam sua eficácia no momento anterior ao exercício, questão muito controversa ainda.
A eficácia do gelo também possui um grau de contestação, mas a grosso modo, podemos dizer que o gelo é capaz de diminuir a temperatura tecidual, agindo com efeito analgésico, ainda que momentâneo, atenuando as reações inflamatórias.
A grande questão aqui é a atuação dos radicais livres, cuja produção guarda estreita relação com o dano muscular. A liberação dos mesmos ocorre tanto durante o exercício quanto no período de recuperação. A administração de vitaminas e minerais e de outros suplementos é de suma importância para minimizar os traumas(micro) do exercício intenso, de forma a impedir o rompimento das membranas celulares a partir da neutralização dos radicais livres.
A assertiva de quanto maior a quantidade de exercícios, maior a quantidade de radicais livres no organismo é verdadeira, e sendo assim, o suplemento se torna essencial, pois dificilmente conseguiremos obter a quantidade necessária de vitaminas e minerais apenas com as refeições comuns. Neutralizando os radicais livres o quadro de dor, por conseqüência, vai melhorar, sem que isso signifique o impedimento do processo de remodelamento e reconstrução muscular.

Os antioxidantes diminuem os efeitos do stress e da falta de O2, além de atenuar as reações produtoras de radicais livres, mas estudos comprovam que o uso de substâncias antioxidantes apenas causarão resultados significativos quanto à dor quando administrados pelo menos em 2 semanas ininterruptas.
Amigo leitor, vamos às conclusões deste artigo:
A atividade intensa causa micro-lesões no tecido da fibra muscular, razão pela qual ocasionará um processo inflamatório, levando ao aumento dos radicais livres e da liberação de prostaglandinas, aumentando a dor. O acúmulo de ácido lático já foi desmistificado neste sentido, sendo o mesmo diferente do lactato, tanto na estrutura como nas demais características. O ácido lático tem relevante função no processo de obtenção de energia e seu acúmulo está relacionado à atividade intensa imediata. O pico das dores tardias se dá normalmente 24 a 48 horas após a prática da atividade e diversos tratamentos são controversos ou ineficazes.
Tenha sempre em vista a diferenciação da lesão “normal”, moderada, e da lesão excessiva, que não mais ocasionará a adaptação e o crescimento muscular, sendo por sua vez prejudicial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- ROBERGS, R.A. The biochemistry of metabolic acidosis: Where do the protons come
from? Sporticiense (5)2, 2001.
- BROOKS, G.A. Lactate doesn´t necessarily cause fatigue: Why are we surprised? Journal of physiology 536.1, 2001.

- GLADDEN, B. L. Lactic acid: New roles in a new millennium. Proceedings of the National
Academy of Sciences of the United States of America; 98: 395-397, 2001.

Fonte: saudeforum.com.br

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