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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Benefícios da terapia manual no tratamento dos tecidos conjuntivos em pacientes com cervicalgia




A cervicalgia é uma síndrome caracterizada por dor e rigidez transitória do pescoço, acometendo 30% dos homens e 43% das mulheres em alguma fase da vida. Os sintomas geralmente são causados por um espasmo muscular e/ou tração de suas raízes nervosas
A cervicalgia pode evoluir de forma aguda (curta duração) ou crônica (isto é, igual ou superior a 3 meses). A presença de dor crônica está associada às lesões traumáticas e manifestações psicossomáticas (depressão, ansiedade e dificuldades no trabalho).
Histologia da massagem no tecido conjuntivo
A massagem do tecido conjuntivo (MTC), ou Bindegewebsmassage, em alemão, foi idealizada por uma fisioterapeuta alemã, Elizabeth Dicke em 1929.
Dicke desenvolveu a técnica da MTC na Alemanha em 1953, e afirmou em seus estudos que a MTC afeta a Sistema Nervoso Vegetativo, e por reação reflexa, pode corrigir desequilíbrios nas funções vegetativas do corpo.
A relação entre as doenças nos órgão e o tecido conjuntivo da superfície corporal, assim como a relação reflexa e segmentar já haviam sido explicadas pelas obras norteadoras de Head (1898), Mackenzie (1911) e Hasen Staa (1938). Desde 1909 já há estudos sobre os efeitos terapêuticos da massagem embasada na teoria reflexa.
Na década de 50 e 60, várias pesquisas foram realizadas sobre MTC na Europa, principalmente na Alemanha e na França. Já na década de 70, expandiu-se também para Eslováquia e Dinamarca. Nos anos 80, para Itália e Inglaterra e, na década de 90, no Brasil.
Efeitos da massagem no tecido conjuntivo
A MTC é uma importante técnica da massoterapia que faz a manipulação da pele e tecido subcutâneo em áreas determinadas do corpo, com o intuito de se obter efeitos em órgãos internos e em estruturas locomotoras podendo contribuir nos diagnósticos gerais e no tratamento de algumas patologias.
Os médicos ingleses Head e Mackenzie foram os primeiros a descrever a relação segmentar entre pele, músculos e vísceras, fazendo a relação entre as enfermidades viscerais e hiperalgesia muscular e estabelecendo a relação músculo-visceral e cutâeo-visceral.
Durante o desenvolvimento embrionário, o corpo humano possui 33 somitos mesodérmicos que dão origem às raízes nervosas da medula espinhal, formando as áreas dos dermátomos, miótomos e esclerótomos, ou seja, áreas da pele, músculos ou ossos que são inervadas pela mesma raiz nervosa. Desta forma, áreas da pele inervadas pelas mesmas raízes nervosas medulares, que possuem a mesma origem embrionária, fazem uma inter-relação metamérica entre pele, vísceras e músculos.
A disfunção de um órgão promove um efeito reflexo em áreas cutâneas correspondentes, alterando a estrutura do tecido conjuntivo. Na manipulação da pele, se obtém o efeito inverso, normalizando o tecido conjuntivo, e fazendo com que impulsos contrários ao distúrbio sejam enviados aos órgãos, modificando sua função.
Esta técnica se distingue da massagem tradicional em técnicas e efeitos fisiológicos. As suas manobras exercem sobre a pele e subcutâneo estímulos desconfortáveis, que desencadeiam reflexos neurais com aumento da circulação sanguínea e redução da dor na área reflexa correspondente à região a MTC tem, então, o objetivo de interajir sistemas nervoso somático e viscerais, através do estímulo das camadas reticulares da derme.
O processo de inter-comunicação entre sistema nervoso somático e visceral ocorre em ambos os sentidos, tanto de víscera para pele como de pele para víscera. Os sinais provenientes de nociceptores viscerais podem manifestar-se como dor em outras regiões do corpo, a chamada dor referida. A convergência de fibras aferentes somáticas e viscerais pode explicar este tipo de dor. Provavelmente este efeito é decorrente da anatomia do sistema nervoso, onde as fibras aferentes nociceptivas das vísceras e de áreas somáticas periféricas convergem no mesmo neurônio de projeção no corno dorsal, e desta forma, o encéfalo não tem como identificar a origem do estímulo.
A pressão exercida na pele durante a massagem, provoca áreas de eritema resultante da liberação de histamina e dos pequenos traumatismos na área.
A histamina liberada pode provocar edema local e dilatação arteriolar, e este aumento de aporte sanguíneo auxilia na resolução de processos sub-agudos ou crônicos, reduzindo a dor pela remoção dos produtos de metabolismo existentes no tecido.
Através da fricção da pele, por via reflexa, obtêm-se efeitos específicos em órgãos internos correspondentes, de forma segmentar, mas também se pode influenciar no funcionamento dos órgãos controlados por outros níveis de inervação.
A MTC estimula as regiões de aderências subcutâneas, provavelmente por receptores de estiramento, com consequente ativação dos neurônios inibitórios da medula, causando a inibição de estímulos aferentes vegetativos.
Indicações e Contra-indicações
A MTC é indicada para alterações funcionais de órgãos internos e do sistema locomotor, enfermidade de obstrução arterial, afecções venosas e alterações do tecido conjuntivo.
Existem inúmeros estudos citando os efeitos benéficos da MTC e como ele tem sido indicado para várias patologias, como a enxaqueca, cefaleia, lesão musculoesquelética, entorse, entre outros; a proposta da MTC não pode curar todas estas desordens, mas pode diminuir a severidade dos sintomas associados à enfermidade.
Não são muitas as contraindicações para a MTC, mas certos distúrbios cardíacos e algumas condições cutâneas generalizadas afetando as costas (psoríase), câncer ou tuberculose, hipertricose nas costas, feridas abertas, úlceras e outras lesões cutâneas na área a ser tratada podem não ter a MTC como terapia adequada.
Técnicas e aplicação da massagem no tecido conjuntivo
Um conceito terapêutico da MTC é que, considerando-se que a patologia visceral reconhecidamente acarreta alterações no tecido conjuntivo da pele em zonas bem definidas, o tratamento aos tecidos conjuntivos da pele de uma zona definida poderia gerar efeitos em outros estruturas que são derivadas do mesmo segmento mesodérmico. Isso forma uma parte extremamente importante do raciocínio desenvolvido para os efeitos da MTC.
As técnicas de MTC podem ser praticadas na maioria das áreas do corpo, não apenas na região cervical e das costas, mas também em regiões mais perifécicas.
A MTC é uma técnica específica de manipilação aplicada aos tecidos conjuntivos colocando-se uma tensão elástica sobre eles.
Nitidamente, existem dois tipos diferentes de movimentos da MTC, um é o movimento “diagnóstico”, e o outro, uma técnica terapeutica. Em alguns casos estes dois movimntos são iguais.
Normalmente o paciente ficará numa posição sentado para uma massagem do tecido conjuntivo, ocasionalmente, o paciente poderá estar em uma posição lateral ou prona, quando não puder ser tratado numa posição sentado. O massoterapeuta deverá estar numa posição em que ofereça boa mecânica para o corpo, seja confortável e evite fadiga. O tratamento começa com um exame da pele que reveste as costas do paciente. É efetuada minuciosa avaliação e observação da postura e dos músculos, juntamente com uma palpação cuidadosa das estruturas orgânicas. As alterações do tecido conjuntivo são visualizadas como áreas achatadas ou faixas deprimidas, que podem estar circundadas por áreas mais elevadas. As áreas mais achatadas são as áreas de resposta primária, e o tecido conjuntivo é rígido, resistindo à distração em qualquer direção, durante a aplicação de um movimento. As áreas secundárias elevadas surgem como áreas de tumefação localizada, sendo assim percebidas pelo tato. O objetivo do exame consiste em mapear as áreas de contorno anormal, relacionando-as aos outros sinais e sintomas do paciente.
Técnicas manuais são ultilizadas na identificação de áreas de alteração do tecido conjuntivo que podem não estar visíveis.
A técnica diagnóstica e terapêutica da massagem se caracteriza por um deslizamento da pele sobre os planos profundos. Se faz assim uma tração irritante sobre o tecido subcutâneo. Realiza-se primordialmente com o dedo médio e o apoio consequente do indicador e anular, movimento este denominado Traço estirado. Para realizar essa tração, há a necessidade de se efetuar uma pressão sobre o tecido.
De acordo com o posicionamento dos dedos, se for de forma mais plana ou inclinada, obtêm-se uma maior pressão ou não. A manobra de traço pode ser longa ou curta, onde houver maior resistência o paciente pode sentir uma dor “cortante” característica.
Os tecidos conjuntivos tem áreas de tensão local características. Existe certa imobilidade das diferentes camadas umas contra as outras, onde normalmente deveria haver una quantidade limitada de movimentos entre elas.
Outra técnica utilizada tanto para avaliação como para tratamento, é o Rolamento da pele, onde os tecidos subcutâneos são rolados sobre as estruturas mais profundas visando a mobilização entre a pele e as estruturas subcutâneas facilitando o movimento articular que possa ter ficado comprometido por uma imobilização excessiva da pele. As mãos repousam completamente, lado a lado, sobre a superfície cutânea, com os polegares esticados e afastados o mais longe possível. Os dedos estendidos arrastam os tecidos na direção dos polegares produzindo uma prega de pele entre os dedos e os polegares. Em seguida, os polegares comprimem os tecidos na direção dos dedos rolando-os em torno daquela parte do corpo em movimento ondular. As unhas devem estar bem curtas e nenhum lubrificante deve ser usado.

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