Crioterapia no Desempenho Motor de Atletas
Autores: Gleice Kelly de
Lemos Dantas e Walderi Monteiro da Silva Junior
Fonte: A autora
INTRODUÇÃO
A crioterapia se apresenta como um recurso
terapêutico valioso, mas com pouco embasamento teórico por parte da maioria dos
fisioterapeutas. O frio é um estado caracterizado pela diminuição de movimento
molecular. O termo crioterapia é utilizado para descrever a aplicação de
modalidades de frio que têm uma variação de temperatura de 0ºc a 18,3ºc. Durante
a crioterapia o calor é retirado do corpo e absorvido pela modalidade de frio,
fazendo com que o corpo responda com uma série de respostas locais e sistêmicas.
A magnitude desses efeitos está relacionada com a temperatura da modalidade, a
duração do tratamento e a superfície exposta ao tratamento. Os efeitos locais da
aplicação de frio incluem vasoconstricção e diminuição da taxa metabólica, da
inflamação e da dor (GUIRRO, 1999).
A terapia fria abrange diversas
técnicas que utilizam o frio em suas várias formas físicas, ou seja, líquida,
sólida e gasosa. Dentre elas: aplicação de gelo ou compressas geladas, massagem
com gelo, água fria corrente sobre uma queimadura, criocinética,
crioalongamento, banhos em água fria, criocirurgia, hipotermia corporal antes de
cirurgias de grande porte e sprays refrigerantes. A crioterapia é utilizada para
a retirada de calor do corpo. Esta induz os tecidos a um estado de hipotermia
com uma redução da taxa metabólica local, promovendo desta forma, uma diminuição
das necessidades de oxigênio pela célula, preservando-a e permitindo que ela
possa se recuperar sem maiores danos. Portanto, os objetivos da crioterapia
referem-se à condição de preservação da integridade da célula do tecido lesado,
possibilitando assim uma reparação mais rápida e com menos danos
estruturais.
Os efeitos fisiológicos da aplicação do frio encontrados na
literatura são: anestesia, redução do calor, redução do espasmo muscular,
estimula o relaxamento, permite mobilização precoce, melhora a amplitude de
movimento, redução do metabolismo, quebra do ciclo dor-espasmo-dor, diminuição
da circulação e na inflamação, estimula a rapidez do tecido.
Devido a
estas razões, despertou-se o interesse em pesquisar a influência da crioterapia
no desempenho motor em atletas fundistas no Estado de Sergipe, para isto foi
realizado levantamento bibliográfico sobre este assunto, abordando a história e
os efeitos fisioterapêuticos do gelo, a condução nervosa, contração muscular,
propriocepção, corridas e Biomecânica da corrida, além do início e da evolução
do atletismo. Foram analisados os resultados, relacionando as médias atingidas
na corrida, assim como as alterações dos sinais vitais.
A existência de
revisões bibliográficas que afirmam que o desempenho motor sofre influência
quando da aplicação da crioterapia ocasionando uma redução da eficiência motora
levou-se a buscar dados práticos que confirmassem as afirmações
teóricas.
Este trabalho teve como objetivo levantar informações sobre a
influência da crioterapia no desempenho motor de atletas fundistas do Estado de
Sergipe e confirmar na prática a redução das marcas e alterações fisiológicas do
indivíduo após a utilização da modalidade fria.
1 FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
1.1 Crioterapia
A origem da crioterapia remonta à
Antigüidade, onde Hipocrates já revelava indicações do frio em pacientes com
quadros inflamatórios, utilizando mecanismos antagônicos com finalidade de
produzir analgesia no pós-cirúrgico. Dominique Jean Larrey, médico de Napoleão
Bonaparte, realizava em soldados, amputações menos dolorosas em temperaturas
abaixo de 0ºc. Em 1946, Schaubel, um conhecido médico americano, relatou pela
primeira vez, os efeitos fisiológicos provocados pela ação do gelo. Esta
observação foi baseada em estudos monográficos sobre o tratamento do controle
nociceptivo em tumores metastáticos, e redução do quadro álgico em pacientes
operados. Um outro pesquisador conhecido como Atlen realizou o primeiro trabalho
experimental para investigação do efeito no metabolismo com a redução da
temperatura local, durante um reimplante da pata de animal traumatizado,
provocando a diminuição do risco de gangrena e choque (RODRIGUES, 1995;
PINHEIRO, 2001).
A crioterapia pode ser definida como a terapia pelo
frio. Ela abrange uma grande quantidade de técnicas específicas que utiliza o
frio na forma, líquida (água), sólida (gelo) e gasosa (gases) com o propósito
terapêutico de retirar o calor do corpo induzindo a um estado de hipotermia,
para favorecer uma redução da taxa metabólica local, promovendo uma diminuição
das necessidades de oxigênio pela célula. Para que seja atingido o resfriamento
muscular em indivíduos magros, necessita-se de um tempo curto, sendo que em
obesos o período de aplicação deve se prolongar. Isso reflete que o tecido
adiposo serve como isolante térmico dificultando o resfriamento do mesmo. É
aplicada ao corpo através de métodos como: spray, bolsa de gelo, compressas,
criomassagens, aparelhos de frio e imersão (ANDREWS, 2000; KNIGHT,
2000).
A terapia fria também age na redução da dor, do edema, da resposta
inflamatória e das perturbações circulatórias. Uma das suas principais funções
no sistema circulatório é a redução do fluxo sangüíneo, devido à
vasoconstricção. Esta ocorre por um estímulo das fibras simpáticas e a
diminuição da pressão oncótica e da permeabilidade da membrana levam a uma
redução do edema (RODRIGUES, 1995; PINHEIRO, 2001). Após aplicação do gelo,
segundo Knight (2000), o fluxo sangüíneo pode permanecer diminuído numa variação
de vinte minutos a duas horas, dependendo da região em que foi aplicada a
crioterapia. Quando realizada em locais com grande aporte sangüíneo, o
reaquecimento torna-se mais rápido, em contrapartida quando utilizada a terapia
fria em regiões onde o fluxo sangüíneo é deficitário, há a necessidade de um
tempo mais longo para que ocorra o reaquecimento.
Não é certa a
utilização do gelo, da compressão e da elevação somente por vinte minutos, em
caso de lesões agudas para diminuição do edema, visto que este tempo não é
suficiente para que ocorra redução do fluxo sangüíneo, da hemorragia e da
hipóxia secundária. Segundo estes autores, a aplicação deve ser intermitente por
trinta minutos em qualquer segmento corpóreo e por quarenta e cinco minutos em
musculatura de grande seção transversal, no intervalo de uma a duas horas sobre
a pele nas primeiras 12-24 horas após a lesão. Para que ocorra a redução do
edema é necessário alternância entre os exercícios físicos e o gelo, por causar
interferência significativa no sistema linfático, já que se necessita da
retirada de proteínas livres de pequena densidade molecular do local lesado que
só ocorre via sistema linfático, através da contração muscular (DOUGLAS, 1994;
GUYTON, 1998; KNIGHT, 2000).
O gelo também apresenta efeitos fisiológicos
quando utilizado no sistema músculo-esquelético, principalmente nas patologias
neurológicas. A queda da temperatura promove uma diminuição da ação muscular e
um relaxamento dos mesmos, favorecendo a redução da espasticidade, pois ocorre
queda da força de contração, devido ao seu efeito direto sobre o fuso, o que
leva a uma redução da sensibilidade fusal e do reflexo tendinoso. Isto ocorre
porque o resfriamento limita a velocidade de condução nervosa das fibras Ia e
II, além de inibir o motoneurônio gama, diminuindo dessa forma o arco reflexo
miotático. Já nas doenças ortopédicas a crioterapia reduz o espasmo muscular
através do bloqueio do ciclo espasmo/isquemia/dor. Este mecanismo se dá devido
ao aumento do limiar da dor e a diminuição da velocidade de condução nervosa que
beneficiam o alongamento muscular, e em contrapartida favorece a redução da
extensibilidade do tecido conectivo, proporcionando uma menor flexibilidade
muscular (RODRIGUES, 1995; KNIGHT, 2000; PINHEIRO, 2001).
A temperatura
corpórea é controlada por um centro localizado na região pré-óptica do
hipotálamo anterior. A diminuição da temperatura é a primeira resposta
fisiológica do organismo ao resfriamento, ocorrendo de forma localizada e
imediatamente após aplicação do gelo, levando a uma redução do metabolismo
celular. Este efeito proporciona à célula um menor consumo de oxigênio, levando
a uma maior sobrevida durante o período de isquemia ou diminuição parcial da
circulação, evitando dessa forma a hipóxia secundária e, conseqüentemente, a
morte celular. Segundo pesquisa de Blair em cachorros, o consumo de oxigênio
varia de acordo com a diminuição da temperatura. A 37ºc uma célula apresenta um
consumo máximo de oxigênio (100%), sendo que a 15ºc a sua necessidade reduz a
10% com relação ao CO2 (gás carbônico), um dos mais importantes metabólitos do
organismo, vão existir alterações que tornarão escassa a sua concentração
promovendo aumento do tônus vascular e diminuição do seu diâmetro, ou seja, uma
vasoconstricção (RODRIGUES, 1995; KNIGHT, 2000; XHARDEZ, 1996).
Após um
trauma, inflamação ou degeneração de partes moles, as células mesenquimatosas
indiferenciadas tendem a migrar para o local do trauma e se diferenciam de forma
gradual em fibroblasto. Estes se deslocam ao longo das camadas de fibrina,
multiplicam-se e desenvolve organelas que produzem colágeno que vão se
distribuir de maneira aleatória no tecido frouxo. No trauma e na inflamação, a
terapia fria atua prevenindo o extravasamento sangüíneo, levando a uma menor
quantidade de fibrinas e a uma menor síntese de colágeno, minimizando a
aderência. Uma vez que a imobilização pós-trauma também contribua para o aumento
da síntese de colágeno, o gelo pode atuar reduzindo o tempo de imobilização
(DELISA, 1992; TUREK, 1991; MÉLEGA; ZANINI; PSILLAKIS, 1992; THOMSON, 1994;
SALTER, 1985).
A terapia fria é realizada num corpo através de várias
maneiras. Na modalidade conhecida como spray, é utilizado um gás inerte, não
explosivo e inflamável que serve para aplicação tópica no controle da dor,
modificando a entrada sensorial do estímulo nociceptivo limitando-o. As bolsas
de gelo, que são recipientes fechados com gelo picado, raspado ou partido,
servem para patologias diversas, onde existem lesões profundas. É considerada
uma das técnicas crioterápicas mais eficientes, por ser de fácil produção e
aplicabilidade. Já as compressas, que são menos eficazes que as panquecas, agem
na redução da temperatura de um tecido superficial. A criomassagem, bastante
conhecida e utilizada terapeuticamente, promove um resfriamento e inibição das
fibras livres. Os dispositivos, conhecidos como aparelho de gelo, consistem de
um reservatório que mantém a água no estado sólido e líquido, ou de uma unidade
que resfria líquido, são apropriados para favorecer o resfriamento da área a ser
tratada (ANDREWS, 2000; KNIGHT, 2000; RODRIGUES, 1998; LIANZA, 2001).
Uma
outra maneira de utilização da terapia por subtração é a imersão. Ela consiste
do emprego de um recipiente ou turbilhão com água gelada e gelo, a fim de que a
temperatura decresça até o nível desejado. É uma técnica de uso mais segmentar,
como em extremidades (mão, pé, cotovelo e braço), mas também pode ser utilizada
em grandes áreas do corpo, como a região lombar ou membros inferiores. A sua
indicação pode ser feita para lesões superficial ou profunda, para modificar a
resposta neurológica, sendo que para cada uma delas, tanto a temperatura quanto
o tempo de exposição ao banho serão diferentes, porque quanto mais baixa for a
temperatura do líquido, maior será a velocidade de redução da interface e,
consequentemente, maior a retirada de calor (ANDREWS, 2000; KNIGHT, 2000;
RODRIGUES, 1995; PINHEIRO, 2001).
1.2 Condução Nervosa
Todos os
sinais nervosos são transmitidos por fibras nervosas, no cérebro, na medula
espinhal ou em nervos periféricos. As estruturas nervosas mais longas por onde
são conduzidos os estímulos nervosos são denominadas de axônios. Em repouso,
essas células nervosas apresentam na face interna da membrana um potencial
elétrico equivalente a -90 milivolts, conhecido como potencial de repouso da
membrana. Este pode ser considerado como o resultado imediato da diferença de
permeabilidade da sua membrana com relação aos principais constituintes iônicos
dos líquidos intra e extracelular. Os íons sódio (Na+) e potássio (K+) favorecem
a ocorrência dessa diferença elétrica (GUYTON, 1998; STOKES, 2000).
No
líquido extracelular existe uma elevada concentração de íons sódio (Na+),
enquanto que as partículas com carga, predominantes no interior das células, são
íons potássio. Em condição de repouso, a membrana do axônio é muito permeável ao
íon potássio tendendo sempre a passar para o exterior da célula. Por estes íons
possuírem carga positiva, sua passagem para o meio extracelular carrega
eletricidade positiva. Com isso, no interior da fibra, pode haver uma grande
quantidade de moléculas de proteínas portadora de carga negativa e que não saem
do meio intracelular, favorecendo o surgimento de uma negatividade devido à
falta de íons positivos e ao excesso de proteínas ionizadas negativamente
(GUYTON, 1998; COHEN, 2001).
Quando a fibra nervosa é adequadamente
estimulada, os canais de sódio da membrana tornam-se muito permeáveis e os íons
sódio (Na+) com carga positiva passam em grande quantidade para o interior do
axônio, fazendo com que o potencial de repouso da membrana torne-se subitamente
positivo, deixando de ser negativo. Porém, a entrada desse íon é muito fugaz e
após o término da entrada, os íons potássio voltam a fluir de novo para o meio
extracelular, estabelecendo a negatividade na face interna da membrana. E é essa
variação seqüencial do potencial elétrico de negativo para positivo e, de novo,
voltando para o negativo que é chamado de Potencial de Ação. Este pode ser
produzido em fibras nervosas por qualquer fator que aumente bruscamente a
permeabilidade da membrana aos íons sódio (LUNDY-EKMAN, 2000; GUYTON, 1998;
STOKES, 2000).
À medida que os íons sódio vão entrando na face interna,
começam a ocorrer inúmeras alterações ao nível da membrana, ocasionando na
despolarização desta. Essa inversão do estado polarizado da membrana estende-se
em direção ao terminal axônico, ampliando a área de permeabilidade ao íon sódio.
A causa dessa extensão é o fluxo de corrente elétrica da área despolarizada
inicialmente para as áreas adjacentes. O potencial de ação vai apresentar uma
velocidade de condução maior ou menor, dependendo da fibra nervosa que a conduz.
Existem dois tipos de fibras nervosas: as amielínicas, que por não possuírem a
bainha de mielina envolta ao seu axônio, apresentam uma baixa velocidade de
condução. Já o outro tipo conhecido como fibras mielínicas, por apresentarem a
bainha de mielina, conduzem o impulso mais rapidamente (COHEN, 2001; GUYTON,
1998).
A mielina é um lipídeo isolante que reveste axônios de vários
tamanhos. Aparece tanto no sistema nervoso central como no periférico, ela é
produzida por células gliais especializadas, as células de Schwann. Ao envolver
os axônios, ela não apresenta uma continuidade ao longo dessas fibras nervosas,
favorecendo o surgimento de pequenas áreas de membrana sem revestimento, estes
locais são conhecidos como Nodos de Ranvier. Os segmentos de mielina atuam como
isolantes elétricos e aumentam de maneira significativa a resistência ao fluxo
iônico, através das porções recobertas da membrana (COHEN, 2001).
Quando
um impulso nervoso se propaga ao longo de um axônio mielinizado, ele apresenta
uma condução saltatória, movendo-se de um nodo de Ranvier para o seguinte,
despolarizando apenas as áreas de membranas dos nodos. Por essa razão, é que as
fibras nervosas mielinizadas apresentam uma maior velocidade de condução.
Imediatamente, após essa onda de despolarização ter passado ao longo da fibra
nervosa, o interior desta, fica positivamente carregado, chegando a um limiar
(GUYTON, 1998; COHEN, 2001).
Este pico de positividade obtido, devido ao
grande número de íons sódio ter se difundido para o interior da célula, faz com
que haja um impedimento da continuação desse influxo, além de permitir que a
membrana torne-se de novo, impermeável aos íons sódio. E dada, a alta
concentração de potássio no interior da fibra, muitos desses íons começam a
fluir para o meio extracelular, carregando consigo carga positiva, criando uma
eletronegatividade dentro da célula nervosa e positividade em seu exterior,
ocasionando a repolarização (STOKES, 2000; GUYTON, 1998).
Este processo,
usualmente, tem início no mesmo ponto da fibra, onde a despolarização começou
originariamente. O restabelecimento da polaridade da membrana ocorre por alguns
poucos décimos-milionésimos de segundos após o início do potencial de ação.
Quando o impulso está trafegando ao longo da fibra nervosa, essa não pode
conduzir outro estímulo nervoso até que sua membrana fique completamente
repolarizada. Este estado é chamado de refratário, e, o seu intervalo de tempo é
tido como período refratário, no qual nenhum outro impulso é transmitido pelas
fibras nervosas (POWERS, 2000; COHEN, 2001).
Após a célula nervosa ter
ficado repolarizada, os íons de sódio que penetraram em seu interior e os íons
potássio que passaram para o exterior voltam às suas concentrações normais,
tanto internas, como externamente à membrana do axônio. É nessa fase que vai
atuar a bomba de sódio-potássio, proporcionando o reequilíbrio das quantidades
iônicas normais. Ela retira o excesso dos íons sódio para fora e transporta os
íons potássio para dentro da célula (GUYTON, 1998).
Quando se aplica o
gelo, há estimulação dos receptores térmicos que utilizam a via espino-talâmico
lateral, uma das quais transmite os estímulos dolorosos. O resfriamento faz com
que ocorra um aumento da duração do potencial de ação dos nervos sensoriais e,
consequentemente, um aumento do período refratário, acarretando uma diminuição
na quantidade de fibras que irão despolarizar no mesmo período de tempo. Com
isso, ocorre uma redução na freqüência de transmissão do impulso e um aumento no
limiar de excitação das células nervosas em função do tempo de aplicação, ou
seja, quanto maior o tempo, menor a transmissão dos impulsos relacionados à
temperatura (GUYTON, 1998; LUNDY-EKMAN, 2000; KNIGHT, 2000).
Os
neurônios, ou seja, as células nervosas, se comunicam com outras para favorecer
a condução nervosa nas funções denominadas sinapses. Estas são pequenos espaços
entre os terminais nervosos do neurônio pré-sináptico e um dendrito de um
pós-sináptico. A comunicação entre eles é dada por meio de um processo
denominado de transmissão sináptica e ocorre quando quantidades suficientes de
um neurotransmissor são liberadas das vesículas sinápticas contidas no neurônio
pré-sináptico. O impulso nervoso proporciona que as vesículas liberem os
neurotransmissores na fenda sináptica (GUYTON, 1998; POWERS, 2000).
Após
a liberação desses componentes excitatórios eles se ligam a receptores da
membrana-alvo, produzindo uma série de alterações conhecida como potenciais
excitatórios pós-sinápticos (PEPSs). Existem duas formas para que esse impulso
excitável leve a fibra ao limiar: transmitindo os sinais simultaneamente por
número variável de fibras, o que é chamado de somação espacial e também quando
se transmite sinal com freqüência baixa ou alta, pela mesma fibra, o que é
denominado de somação temporal (POWERS, 2000).
As fibras musculares
esqueléticas conduzem impulsos exatamente iguais às fibras nervosas. Existe
entre a célula nervosa e a muscular uma conexão entre elas denominada de placa
motora. A fibra nervosa se ramifica próximo a seu término para formar uma rede
de terminais axonais, chamada de placa terminal, cada um desses terminais
encontra-se envolvido em invaginações formadas pela membrana da célula muscular,
mas permanecendo fora dessa membrana. Essa invaginação é conhecida como goteira
e o espaço entre o terminal axônico e a membrana da fibra muscular é chamado de
fenda sináptica. É nesse local em que a acetilcolina é liberada, dando início à
contração muscular (STOKES, 2000; GUYTON, 1998). Quando se utiliza a modalidade
fria há uma diminuição do impulso nervoso na fenda sináptica, apresentando como
conseqüência uma redução da liberação de neurotransmissor (acetilcolina)
(KNIGHT, 2000; DINIZ, 2000).
1.3 Contração Muscular
O sistema
nervoso comanda através dos gânglios da base e cerebelo, as atividades das vias
descendentes que levam informações do encéfalo ou tronco encefálico sobre o
movimento até os motoneurônios inferiores, localizados na medula espinhal. Neste
local ocorre uma interação entre neurônios com a finalidade de levar a resposta
motora para os músculos, visto que essas fibras nervosas inervam as musculares.
Os motoneurônios superiores que possuem seus corpos, no córtex ou no tronco
encefálico e, cujos axônios cursam as vias descendentes, são responsáveis por
movimentos grosseiros, aprendidos e voluntários (LUNDY-EKMAN, 2000; GUYTON,
1998).
Os motoneurônios inferiores podem ser de dois tipos, alfa e gama,
estes possuem seus corpos celulares no corno ventral da medula e seus axônios se
projetam no músculo esquelético extrafusal e nas fibras intrafusais do fuso
muscular. Os neurônios motores alfa apresentam corpos celulares grandes e
calibrosos, axônios mielinizados, enquanto os do tipo gama têm axônios médios
mielinizados. Os axônios de alfa se ramificam em várias terminações conforme se
aproximam do músculo, estas acabam em uma só fibra muscular na junção muscular.
Ao ser liberado o neurotransmissor (acetilcolina), pelo axônio de alfa, este se
fixa aos receptores nicotínicos, localizados na membrana da célula muscular,
despolarizando-a. À medida que há progressão destes neurotransmissores ao longo
da membrana, uma série de reações provoca a contração das fibras musculares
(LUNDY-EKMAN, 2000).
A unidade motora é composta por corpo celular,
dendritos, axônio e ramos, e pelas fibras musculares inervadas pelos
motoneurônios alfa. Cada neurônio pode terminar em 2000 fibras musculares,
apresentando uma média de 100-200 fibras para cada neurônio. Essas não ficam
localizadas no mesmo fascículo e nem arranjadas em feixes, porém, encontram-se
espalhadas sobre o músculo. Ao ser ativada a unidade, todas as fibras de sua
competência se contraem em milisegundos, existindo para cada tipo de unidade
motora fibras oxidativas de contração lenta (Tipo I), de contração rápida (Tipo
IIa) e as glicolíticas de contração também rápida (Tipo IIb), possuindo um
determinado tipo de unidade correspondente à mesma. Elas são predeterminadas
geneticamente, contudo com o treinamento específico, estas podem ser aumentadas
(HAMILL; KNUTZEN, 1999; WILLIAM; ZERNICKE, 2001).
Os motoneurônios alfa
conduzem os impulsos em altas velocidades, acima de 100 m/s, geram freqüências
de alto grau de contração no músculo variando de 30 a 40 ms e inervam as
unidades glicolíticas, sendo responsáveis pela atividade muscular de contração
rápida, porém essas se fadigam rapidamente. As proporções rápidas de neurônio
para fibras auxiliam atividades que utilizam potência e velocidade, como
corridas de velocidade, levantamento de peso e saltos. Já as unidades do tipo
IIa, apresentam freqüências de contrações rápidas, porém são mais resistentes à
fadiga, criando tensões moderadas por períodos mais longos de tempo. As do tipo
I, geram baixas freqüências de contração, tendo sua tensão sustentada por um
longo período, possuindo um papel fundamental na manutenção da postura,
articulações e exercícios repetitivos (LUNDY-EKMAN, 2000; HAMILL; KNUTZEN,
1999).
O potencial de ação é dado com um impulso nervoso que se propaga
pelo axônio, com a mesma amplitude, até chegar na placa motora terminal. Ao
passar por esta o mesmo percorre o músculo desencadeando a produção de pontes
transversas e o encurtamento dos sarcômeros no músculo. Ao gerar múltiplos
desses potenciais seqüenciados e próximos, são criados os movimentos. Outros
interneurônios e neurônios possuem a capacidade de se comunicar com a unidade
motora responsável pelo potencial de membrana, através de ramos pequenos, que
podem ser excitadores ou inibidores do mesmo. Esse estímulo deve ser forte o
suficiente para produzir uma resposta no neurônio com que se conecta, já que
este possui amplitude modificável ao longo do trajeto, diferindo do potencial de
ação (HAMILL; KNUTZEN, 1999; GUYTON, 1998).
A ordem de recrutamento dos
motoneurônios alfa é o principal mecanismo para a produção de força no músculo,
esta se dá na ordem crescente, assim os axônios menos calibrosos, com menos
velocidade de condução, inervam as fibras lentas, enquanto que os axônios de
maior calibre e com velocidade elevada de condução, inervam as rápidas. Contudo,
existem exceções à regra de que músculos lentos são recrutados primeiro. O
recrutamento das unidades é realizado de forma não sincronizada, tendo sua
ativação espaçada temporalmente e somada com a atividade da unidade motora
precedente, permanecendo ativas até que a força decline, ocorrendo a desativação
das unidades, só que na ordem contrária de ativação. A freqüência de disparo
dessas unidades pode também influenciar na quantidade de força ou tensão
produzida pelo músculo, variando com o tipo de fibra e modificando com o tipo de
movimento. Eventualmente, esta freqüência diminui durante qualquer contração
muscular contínua, quer seja leve ou vigorosa (LUNDY-EKMAN, 2000; HAMILL;
KNUTZEN, 1999).
O tecido muscular estriado é formado por fibras
musculares multinucleadas que apresentam estriações transversais
características. Estas estriações se apresentam como faixas claras e escuras que
se alternam ao longo de toda a fibra. As faixas claras são chamadas de banda I,
contêm os filamentos finos enquanto que as faixas escuras são conhecidas como
banda A, mantedoras de filamentos grossos. Cada banda I tem centralmente uma
fina região escura, a linha Z. O segmento compreendido entre duas linhas Z
sucessivas representa a unidade funcional fundamental da fibra muscular
denominado sarcômeros. Na banda A, quando o músculo está relaxado, existe uma
região central mais clara, constituída somente pela presença de filamentos
grossos; esta região central é chamada de zona H (DOUGLAS, 1994; ROSS, 1993;
JUNQUEIRA, 1999).
Tanto os filamentos grossos como os delgados são
compostos de proteínas.Os primeiros consistem de uma proteína chamada miosina,
cada filamento grosso contém aproximadamente 200 moléculas de miosina
arranjadas, de tal maneira que fiquem entrelaçadas, formando as pontes cruzadas.
Já os filamentos delgados dos sarcômeros são compostos principalmente pelas
proteínas actina, tropomiosina e troponina. A actina representa em torno de 25%
da proteína da miofibrila, e é composta por subunidades esféricas ou globulares,
que são: actina G e actina F. Associada à cadeia de actina G encontra-se
moléculas de tropomiosina. Fixada a cada molécula de tropomiosina e também de
actina está uma molécula menor da proteína troponina (SPENCE, 1991; DE ROBERTIS,
2001).
A fibra muscular esquelética pode ser considerada como dividida
em compartimentos não comunicantes entre si, devido a um sistema de membranas
internas e externas. A membrana plasmática conhecida como sarcolema, emite
invaginações periódicas, apresentando-se como túbulos cilíndricos que penetram
no citoplasma perpendicularmente ao maior eixo da fibra. Esses túbulos por
atravessarem transversalmente as fibras musculares, recebem o nome de túbulos T.
O retículo sarcoplasmático constitui um outro sistema de túbulos fechados,
localizados ao lado das mitocôndrias e miofibrilas e entre os túbulos T. Este
retículo apresenta dilatações – as cisternas – nas porções justapostas aos
túbulos T, de modo que o conjunto aparece como três vesículas, uma pequena,
central, correspondendo a um túbulo T e duas grandes laterais, correspondendo a
duas cisternas do retículo sarcoplasmático. Este conjunto é chamado de tríade, e
entre as bandas A e I, existem duas tríades por sarcômero (LEVY, 1989).
A
função do músculo é desenvolver ou gerar tensão que é a contração. Uma vez que a
contração é iniciada, uma cadeia reversível de eventos físicos e químicos é
colocada em movimento. Considerando o músculo esquelético como voluntário, ou
seja, que requer estimulação do SN (Sistema Nervoso) para se contrair, todo o
processo começa quando um impulso nervoso alcança a junção mioneural, sendo
liberado nesta região a acetilcolina. Ela causa mudança na permeabilidade da
membrana plasmática da célula muscular na junção mioneural, gerando impulso
estimulador que se propaga por toda a membrana. Assim, o impulso passa pelos
túbulos T em direção às áreas centrais da célula, sendo transmitido de maneira
uniforme e coordenada para todo o interior dela. Com essa distribuição do
impulso, ele pode afetar o retículo sarcoplasmático, resultando da liberação dos
íons cálcio nas cisternas terminais (GUYTON, 1998; LUNDY-EKMAN,
2000).
Toda contração muscular requer energia que é fornecida pelo
Trifosfato de Adenosina (ATP), substância produzida pela célula. Quando o ATP é
quebrado em difosfato de Adenosina (ADP) e fosfato inorgânico pela miosina,
libera energia e transforma-se em uma miosina altamente energizada. Esta miosina
energizada tem o poder de ligar-se à actina. Numa fibra muscular relaxada esta
ligação é impedida pela tropomiosina; quando esta é estimulada, os íons cálcio
são liberados do retículo sarcoplasmático, ligando-se às moléculas de
troponina-actina. Isso permite a tropomiosina deslocar-se para fora, facilitando
a ligação da miosina altamente energizada com a actina-G, e assim, a energia
acumulada pela miosina é descarregada. Essa descarga produz uma força que faz
com que a cabeça da miosina (ponte cruzada) sofra uma rotação em torno do
filamento da actina, puxando-a para o centro do sarcômero, fazendo com que a
fibra se encurte (SPENCE, 1991).
Como a permanência do cálcio no interior
da fibra muscular é temporária, assim que ocorre a sua liberação, este é
recolhido rapidamente pelo retículo sarcoplasmático, fazendo com que se reforce
a conexão da troponina com a actina, empurrando a tropomiosina para sua posição
de bloqueio, de modo que não seja mais possível a interação entre a miosina e a
actina. Isso faz com que os filamentos retornem à sua posição inicial e o
músculo relaxe (LEVY, 1989).
Segundo Worrell e Oliver apud Andrews
(2000), a força muscular decresce durante a aplicação do gelo, pois há uma
redução na tensão muscular devido ao efeito direto sobre o fuso muscular levando
à redução do reflexo fusal e tendinoso.
1.4 Propriocepção
O (SNC)
Sistema Nervoso Central recebe constantemente mensagens dos receptores do corpo
sobre alterações tanto do ambiente interno quanto do externo. Essas mensagens
são conduzidas pelos neurônios sensoriais que partilham de um mesmo padrão de
organização anatômica. Assim, as sensações nos permitem investigar o mundo,
através de informações oriundas da pele e do sistema músculo-esquelético. As
informações da pele ou sensorial superficial que compreendem tato, dor e
temperatura, enquanto as informações originárias dos músculos abrangem
propriocepção e dor (LUNDY-EKMAN, 2000; POWERS; HOWLEY, 2000).
Os
receptores cinestésicos ou proprioceptores incluem os fusos musculares, os
órgãos tendinosos de Golgi e os receptores das articulações, fazendo com que a
propriocepção inclua a sensação estática dos ângulos das articulações como
também, as sensações cinestésicas. Estas últimas são estímulos sensoriais sobre
o movimento, fornecendo desse modo o grau de estiramento dos músculos, o grau da
tensão exercida nos tendões, a posição das articulações e a vibração profunda
(ANDREWS, 2000; LUNDY-EKMAN, 2000; POWERS; HOWLEY, 2000).
O órgão
sensorial do músculo é o fuso muscular, consistindo de fibras musculares,
terminações sensoriais e motoras, sendo que as terminações sensoriais respondem
ao estiramento, isto é, às variações do comprimento muscular e da velocidade com
que ocorrem essas variações. O estiramento rápido e tônico do fuso é registrado
por aferentes do tipo Ia, já o estiramento tônico é monitorado por aferentes do
tipo II, existindo ainda delgadas fibras eferentes nas extremidades do fuso que
ajustam o estiramento de modo que o fuso permaneça responsivo por toda faixa
fisiológica do comprimento muscular (LUNDY-EKMAN, 2000).
Como o fuso
localiza-se no meio da massa muscular esquelética e apresenta-se de forma
fusiforme (afilado em suas extremidades) possui dois tipos de fibras musculares,
as intrafusais que são especializadas no fuso, e as extrafusais que são externas
ao mesmo. Existe uma conexão entre as extremidades das fibras intrafusais com as
fibras extrafusais, de modo que o estiramento do músculo também ocorre no fuso
muscular (ANDREWS, 2000; LUNDY-EKMAN, 2000).
O órgão tendinoso de Golgi
(OTG) é uma terminação nervosa encapsulada que cursa entre os filamentos de
colágeno dos tendões, e é responsável por retransmitir a tensão exercida sobre
os tendões, sendo sensível a variações leves, menor que 1g de tensão,
respondendo tanto por contração ativa como pelo estiramento passivo do músculo.
As respostas são conduzidas pela fibra Ib, partindo deste até a medula espinhal
(LUNDY-EKMAN, 2000).
As articulações possuem receptores que respondem à
deformação mecânica da cápsula e dos ligamentos, como as terminações nervosas
livres, receptores tipo Golgi, corpúsculos de Pacini e terminações de Ruffini.
Sendo mais abundantes as terminações nervosas livres que são sensíveis ao toque
e à pressão, elas são fortemente estimuladas no início do movimento, se
adaptando discretamente, mas em seguida passam a transmitir um sinal fixo até
que o movimento esteja completo. Os receptores tipo Golgi estão localizados nos
ligamentos que circundam as articulações, sinalizando as tensões. Os corpúsculos
de Pacini são encontrados nos tecidos periarticulares, e respondem ao movimento
dinâmico, necessitando que o ângulo da articulação seja modificado. Já as
terminações de Ruffini, na cápsula articular, sinalizam os extremos da faixa de
movimento da articulação, sendo mais sensíveis à movimentação passiva que à
ativa (LUNDY-EKMAN, 2000; POWERS; HOWLEY, 2000).
O resfriamento pode ser
utilizado como estímulo proprioceptivo, estimulando os esteroreceptores e
facilitando o reflexo H, que é uma descarga do neurônio motor alfa. Com a
diminuição da temperatura na pele ocorre facilitação destes motoneurônios,
aumentando a resposta neuromuscular. Por isso, o gelo pode ser indicado na forma
de Tapping, por proporcionar uma facilitação neuromuscular. Em teoria, o frio
deveria alterar a propriocepção, pois há uma diminuição das aferências cutâneas
e da sensibilidade dos fusos musculares. No entanto, através de pesquisas
realizadas por Evans e colaboradores sobre o efeito da crioterapia no desempenho
funcional de atletas, foram constatadas que tarefas funcionais habilidosas não
são afetadas pelo frio. De acordo com este trabalho ficou concluído que a
aplicação do gelo (imersão ou compressa de gelo) curta (20 minutos), a 1ºc não
exerceu efeito significativo sobre a propriocepção (ANDREWS, 2000).
1.5
Corridas
O Atletismo que tem sua palavra derivada da raiz grega athlon, a
qual significa combate, é uma das primeiras modalidades esportivas praticadas
que se baseava nos movimentos naturais como saltar, correr e arremessar. Desde
os primórdios de nossa civilização, já se expressava uma forte tendência para a
execução das corridas. Há referências na História, de que as primeiras corridas
realizadas foram no Egito. Encontrou-se na tumba de Mahu, um faraó egípcio,
gravuras de grupos de corredores acompanhando o carro do faraó. Outra citação
histórica sobre a atividade esportiva estudada vem de Diódoro (1.300 a.C.), um
grande historiador Romano que descreve a educação através das corridas atléticas
dos príncipes do seu tempo (SILVA, 1982; FERNANDES, 1979).
Já na Grécia
Antiga, na realização dos primeiros Jogos Olímpicos gregos, organizavam-se
competições de corridas de velocidade. Era a prova de 192 metros, equivalentes a
600 pés de Heracles, sendo chamada de corrida de estádio. Os helênicos também
davam grande importância às corridas atléticas, a ponto de as pessoas serem
avaliadas de acordo com o seu rendimento naquela modalidade esportiva (SILVA,
1982).
Em nossa época, o atletismo continuara a merecer uma atenção
especial. O primeiro povo a demonstrar um interesse especial por corridas foi os
ingleses, que evidenciaram uma grande inclinação pelas provas de longa duração.
A partir da Inglaterra, as corridas começaram a chegar em outros países, como os
Estados Unidos, a Finlândia, a Suécia, a Alemanha, entre outros. Com o passar do
tempo, foram sofrendo várias transformações até chegar nas provas disputadas
atualmente (SILVA, 1982; FERNANDES, 1979).
O atletismo se destaca por
possuir estudos científicos e metodológicos, com infinidades de investigações no
campo da biomecânica, da biologia, da psicologia e da medicina esportiva, entre
outras, incluindo trabalhos relacionados com a preparação específica dos
esportistas. É fato que este agrupa as mais diversas disciplinas esportivas,
abrangendo um amplo espectro. Assim, fazem parte do atletismo modalidades, tais
como as de velocidade e força: saltos e lançamentos; a de caráter cíclico:
corridas de curta distância e marcha atlética, e as disciplinas mais completas
que combinam a cíclica, as de coordenação difícil e as de velocidade e força.
Desta forma a preparação dos atletas exige uma maior complexidade e
diversificação de técnicas, além de cuidados rigorosos quando comparada a outros
esportes (POLISCHUK, 2000).
As primeiras provas atléticas de velocidade
foram os 100 metros e os 400 metros, em Atenas (1896). Seguiram-se a estas as
provas de meio-fundo, os 800 metros e os 1.500 metros masculinos. A prova de 200
metros só começou a ser disputada em 1990, em Paris. Em 1908 surgiram as
corridas de fundo, incluindo os 5.000 metros, disputados em Londres. Em 1912, em
Estocolmo, corre-se pela primeira vez os 10.000 metros. As mulheres entraram na
competição das provas de velocidade em 1928, em Amsterdã, competindo nos 100
metros. Em Londres, elas iniciaram as provas de 200 metros, e na cidade de
Tóquio, em 1964, começaram a correr os 400 metros. A prova dos 1.500 metros
entrou no programa olímpico em Munique em 1972, e os 3.000 metros em Los
Angeles, no ano de 1984. Já os 10.000 metros foram incluídos nas Olimpíadas de
Seul, em 1998 (DUARTE, 2000).
As provas dependem do processo, este varia
de 100 metros a 42,195 Km (quilômetros), sendo classificadas em curta distância,
meio-fundo e longa distância ou de fundo. A velocidade atingida na prova resulta
da intensidade do esforço, que é variável com extensão do percurso, e com a
duração do esforço físico. Assim as corridas de curta distância são as de 100,
200 e 400 metros rasos, as de 100 metros com barreiras para mulheres e 100 a 400
metros com barreiras para homens. Já as de meio-fundo e fundo são as com
percurso de 800 a 5.000m, 10.000m e (42,195 Km) maratonas, respectivamente.
Durante a realização das provas de 100 e 200 metros os corredores necessitam de
qualidades físicas e morfológicas, pois são as que requerem velocidade pura,
contudo as provas de 400 a 800m exigem uma velocidade mais prolongada, as de
1.500 metros necessitam de resistência anaeróbica, enquanto que as de 5.000m,
10.000m e maratonas requerem resistência aeróbica (FERNANDES, 1979; SCHMOLINSKY,
1992).
1.6 Velocista
A velocidade é a capacidade de realizar
esforços de intensidade máxima com freqüência de movimentos máximos, ou seja,
cobrir uma distância dentro de um menor tempo. Sendo assim, produto de vários
fatores como: morfologia, qualidade nervosa, técnica da corrida e técnica das
passadas, onde a morfologia do corredor é o único fator imutável, pois os demais
fatores podem melhorar mediante treinamentos. A técnica da passada depende de
dois mecanismos, amplitude e freqüência, sendo o primeiro condicionado pela
qualidade neuromuscular e morfológica do atleta, enquanto que o outro é
característica individual, pois se relaciona com potencial nervoso e relaxamento
muscular, este por sua vez quando ocorre de maneira global, promove desbloqueio
dos movimentos do braço, o que repercute nas pernas, provocando um ganho da
rapidez voluntária (FERNANDES, 1979).
As corridas de 100 e 200 metros
rasos constituem distâncias reservadas aos mesmos atletas, pois um velocista bem
preparado consegue bons resultados em ambas. Atualmente, discute-se muito se
deve existir treinamento diferenciado para cada uma dessas provas, contudo deve
ser evidenciado que na corrida de 200 metros há um elevado volume no treinamento
de resistência à velocidade, denominada de resistência de Sprint, visando manter
a velocidade máxima no maior espaço de tempo possível, o que se consegue através
de treinos específicos. Já na prova de 400 metros rasos é fundamental existir
uma velocidade prolongada mantida por um esforço submáximo, assim os corredores
devem apresentar características essenciais como estilo próprio, velocidade,
resistência, espírito de luta e critério para administrar as próprias forças,
com intuito de reservar energia suficiente para um final que geralmente se
define de forma violenta. Por ser considerada uma prova fadigante, seus usuários
devem adotar uma posição correta, com passadas largas e poderosas. O treinamento
é realizado, objetivando adquirir a resistência à velocidade (FERNANDES, 1979;
SILVA, 1982).
Dentro do atletismo, as corridas com barreiras oferecem um
programa original, pela combinação da corrida com os saltos. As provas variam de
100 a 400 metros de distância, e com elas varia, também, a altura das barreiras,
exceto a distância entre uma e outra, que é uniforme, a fim de que o atleta
possa alcançar o obstáculo com o mesmo número de passos. Os corredores dessa
prova devem possuir a velocidade de um atleta de 100 metros rasos, a resistência
de um corredor de 400m, a elasticidade de um saltador e a coragem de um boxeador
(Op. cit.).
1.7 Biomecânica da Corrida
A corrida é caracterizada
pela substituição da fase de duplo apoio da marcha por uma suspensão do corpo,
assim haverá dois períodos de apoio unilaterais para um de suspensão do corpo.
Esta se processa devido a ação de forças internas resultantes de contrações
musculares além de fatores externos como, gravidade, resistência do ar, reação
do solo e atrito. Sem este último influenciador, o ser humano não seria capaz de
correr em direção horizontal em um solo polido, sendo utilizado com intensidade.
Para que compreendamos melhor a natureza do movimento é preciso entender a sua
causa. Assim, a parte da mecânica que aborda a descrição do movimento é
denominada cinemática, enquanto que a cinética se refere às causas do movimento,
tendo como um de seus objetivos o estudo da força muscular, onde essa pode ser
definida com a interação de impulso ou tração, resultando na produção do
movimento (FRACCAROLI, 1981; HAMILL; KNUTZEN, 1999).
O estudo da
cinemática na corrida descreve posições, velocidades e acelerações dos corpos em
movimento. É utilizado objetivando descrever o movimento cíclico do corpo, onde
este é suportado primeiro por uma perna, depois pela outra. Cada ciclo locomotor
é denominado passada, sendo esta definida a partir de um evento sobre uma perna
até o mesmo evento sobre a mesma perna no contato seguinte. A passada é
subdivida em passos, que se inicia desde o primeiro contato do pé até o contato
da perna oposta com o solo, assim dois passos equivalem a uma passada (Op.
cit.).
Dentre os parâmetros cinemáticos mais estudados, os mais
importantes são o comprimento e a freqüência da passada, logo o primeiro se
relaciona com a passada, e o segundo com o número de passadas por minuto.
Portanto, a velocidade da corrida é resultante da relação entre freqüência e
comprimento da passada, por esta razão os corredores podem aumentar sua
velocidade alterando um ou ambos. Inicialmente um corredor incrementa sua
velocidade, elevando o comprimento, porém existe um limite físico de quanto o
indivíduo pode alterar este comprimento que é estabelecido pela morfologia de
cada atleta, assim, para correr mais rápido, é necessário aumentar a freqüência
de sua passada (FERNANDES, 1979; HAMILL; KNUTZEN, 1999; SILVA, 1982).
As
fases conhecidas como apoio e balanceio ou oscilação são subdivisões da passada.
A primeira é compreendida quando o pé está em contato com o solo terminando no
momento em que a extremidade deixa de tocar o solo, durante essa fase existe um
ponto no qual o centro de massa do corredor está diretamente sobre a base de
apoio, denominado apoio médio. A de balanceio começa quando o pé deixa o solo e
vai até o mesmo refazer contato com o chão (HAMILL; KNUTZEN, 1999).
Ao
correr, o membro de apoio do atleta descreve uma trajetória circular de
concavidade dirigida para baixo, de frente para trás com centro na articulação
tíbio-tarsica. Possuindo duas fases diferentes, uma de recuperação que antecede
a passagem do membro pela vertical da gravidade, com sua ação sendo realizada no
sentido oposto da corrida, diminuindo a sua intensidade, o membro que tem
contato com o solo através da flexão coxofemoral, do joelho e extensão da
tíbio-tarsica, vai tentar desfazer estes movimentos., e outra, de impulsão, que
procede a passagem pela vertical, onde a extremidade se eleva pela ação das três
articulações inferiores estendidas (FRACCAROLI, 1981; HAY, 1981).
Durante
a fase de recuperação, as articulações do joelho se aproximam, e os pés circulam
enquanto chega mais próximo do corpo. Ao passo que a articulação do joelho se
afasta e a perna começa a ser alongada, o pé fica mais próximo do solo
preparando-se para a fase de apoio. Nesta fase, o atleta permanece com a perna
relaxada permitindo que o pé toque naturalmente o chão sem que ocorra uma ação
de esmagamento. Ao fazer o contato inicial com o solo através da borda externa
da parte anterior, o peso é sustentado de acordo com a velocidade do atleta.
Quanto mais rápido, mais alto o ponto de contato com a parte anterior do pé. Ao
atingir o solo com essa parte do pé, o atleta tem sua velocidade potencializada,
porém existe um grande gasto energético. As corridas de longa distância, onde se
percorre de forma lenta, o ponto de contato move-se na direção da parte
posterior do pé, entre o arco e o calcanhar, poupando energia. Já nas corridas
de velocidade, a fase de apoio inicia-se com uma leve carga no pé que está
apoiado e dirige-se para toda a planta (DINTIMAN, WARD; TELLEZ, 1999).
O
membro de oscilação é levado para frente em uma trajetória circular dirigida
para cima e centro na articulação coxofemoral. As articulações do joelho e
tíbio-tarsica se flexionam com a finalidade de diminuir o raio e aumentar a
velocidade angular, existindo posteriormente uma flexão coxofemoral para colocar
o membro em questão mais a frente, porém quando ultrapassa a projeção da
gravidade, esta flexão vai sendo reduzida e o mesmo vai se estendendo para
entrar em contato com o solo. Ao contato do calcanhar com o solo, a força que
age sobre a articulação do quadril é aproximadamente quatro vezes o peso
corporal, o suporte do peso corporal e a contração muscular dos abdutores. Antes
da saída dos artelhos essa força aumenta até aproximadamente sete vezes o peso
do corpo, devido novamente ao aumento das atividades dos abdutores (FERNANDES,
1979; FRACCAROLI, 1981; HAMILL; KNUTZEN, 1999).
Na corrida, os movimentos
na articulação do quadril ocorrem em amplitude maior em comparação com o andar,
exceto pelo movimento de hiperextensão, que é maior na caminhada devido ao maior
tempo do apoio. Nesta, ocorre entre 500 e 1.300 contatos do pé com o solo por
quilômetro e o peso do corpo é absorvido duas a três vezes pelo membro. Durante
realização da fase de balanceio, não existe força externa agindo sobre a
articulação, a carga sobre a articulação é reduzida a uma vez o peso corporal e
é gerada pela atividade dos músculos extensores. Deve ser ressaltado que essas
forças são menores no sexo feminino, porque a sua pelve é anatomicamente mais
larga, tornando os abdutores mais efetivos de maneira que estes não necessitem
produzir um alto rendimento de força (FRACCAROLI, 1981; HAMILL; KNUTZEN,
1999).
O músculo glúteo médio e o tensor da fáscia lata, responsáveis
pelo controle da pelve sobre o chão, ficam ativos antes do contato com o solo e
na fase inicial do apoio (frenagem), impedindo que a pelve se incline para o
lado oposto. À medida que a velocidade da corrida aumenta a atividade do glúteo
médio e mínimo se reduz levemente. Na porção inicial da etapa ocorre uma
contração excêntrica dos isquiotibiais e glúteo máximo para controlar o membro
em flexão. Porém, quando a velocidade da corrida é potencializada, os primeiros
se tornam mais ativos, enquanto que o segundo grupo muscular reduz sua ação
nesse ponto (Op. cit.).
A fase propulsiva da corrida ocorre no final da
etapa de apoio, onde existe uma extensão da coxa permitindo que os isquiotibiais
fiquem bastante ativos e o glúteo máximo gere uma rotação externa até a saída
dos artelhos. À medida que o pé deixa o solo iniciando a fase de balanceio, o
membro é trazido para frente pelo iliopsoas e retofemoral, reduzindo a
velocidade de hiperextensão da coxa e movendo-a para frente em flexão. Este
último músculo é o responsável por grande parte da amplitude de movimento do
membro inferior, sendo considerado o mais importante para a propulsão do corpo.
Já o iliopsoas realiza movimentos de flexão de forma vigorosa, contribuindo para
a extensão do joelho, permanecendo ativo durante mais de 50% da fase de
balanceio na corrida (DINTIMAN; WARD; TELLEZ, 1999; HAMILL; KNUTZEN,
1999).
Existe no final desta etapa citada acima, uma grande ação muscular
no glúteo máximo e isquiotibiais na medida em que começa a desacelerar a coxa,
que se flexionava rapidamente. Contudo, a proporção que a velocidade da corrida
é elevada, a atividade do glúteo máximo aumenta, com o objetivo de reduzir o
movimento da coxa, preparando o contato do pé na descida. Nessa parte da corrida
os abdutores são ativados novamente quando a coxa desce excentricamente para
produzir adução (HALL, 2000; HAMILL; KNUTZEN, 1999).
Quando ocorre
amortecimento com o solo os joelhos encontram-se flexionados em torno de 21 a
30º, porém após o toque do pé com o chão, os joelhos se flexionam para valores
entre 30 e 50º, sendo esta proporção elevada à medida que a corrida exige mais
velocidade. A flexão máxima do joelho acontece durante o meio apoio, após o qual
se estende até a retirada dos artelhos. Mediante essa retirada não se alcança a
extensão completa, variando entre valores que vão de 27 até 18º, dependendo da
velocidade da corrida, assim as maiores extensões geralmente relacionam-se com
pequenas velocidades, como ocorre nas corridas de longa distância (Op.
cit.).
Segundo Hamill e Knutzen (1999), no final da fase de apoio ocorrem
36º de flexão de joelho, 8º de rotação externa e 8º de movimento varo/valgo, já
para a fase de balanceio acontece 80º de flexão de joelho, 11º de rotação e 19º
para movimento varo/valgo.
A atividade pélvica na corrida é controlada
pelos braços, posição do tronco e músculos abdutores. A rotação pélvica para a
esquerda ocorre à medida que a coxa direita oscila para frente. Essa rotação é
contraposta pelo balanceio do braço no lado contralateral para a direção oposta.
Se o balanceio do braço é excessivo ou insuficiente para controlar o balanceio
da perna, a pelve roda demais sobrecarregando as inserções musculares da crista
ilíaca (FERNANDES, 1979; HAY, 1981; HAMILL; KNUTZEN, 1999).
Na
movimentação anterior, ou seja, na flexão da articulação gleno-umeral (deltóide
anterior, peitoral maior e coracobraquial), a mão atingirá a altura dos ombros,
enquanto que, na movimentação posterior, na extensão da articulação gleno-umeral
(deltóide posterior, dorsal, peitoral maior e porção esternal), a mão alcançará
a altura dos quadris, um pouco mais atrás, e os cotovelos estarão flexionados em
aproximadamente 90 graus (CARNAVAL, 2000).
Já na inclinação lateral
direita e esquerda, a atividade pélvica é controlada pela ação dos abdutores.
Quando a pelve se inclina para baixo no membro que não está apoiado, os
abdutores do membro de suporte estabilizam a pelve para que não se incline para
o lado oposto. Se os abdutores não podem controlar a ação pélvica no plano
frontal, ocorre da pelve cair sobre o lado não suportado. Esta se move muito
pouco na inclinação anterior e posterior à medida que a perna flexiona e
estende, contudo, a posição do tronco pode influir grandemente nestas
inclinações durante a corrida (HAMILL; KNUTZEN, 1999).
No início de uma
prova de corrida de velocidade, o atleta inclina seu tronco bem à frente, devido
à reação do solo às forças estabelecidas por ele no bloco de saída. À proporção
que a corrida avança, o atleta não tem mais condições de imprimir grandes forças
no solo, como no momento da largada, por isso, diminui a inclinação do tronco à
frente. Deve-se lembrar a importância das musculaturas abdominal e lombar, na
manutenção dessa inclinação (CARNAVAL, 2000). Estas musculaturas têm como
objetivos diminuir a superfície corporal submetida à resistência do ar e fazer
com que a resultante das forças atuantes sobre o corpo se situe sobre o tronco
do atleta paralelamente à coluna vertebral (SETTINERI, 1988).
Na fase de
apoio durante a corrida, ocorre a flexão do tronco e flexão lateral para o lado
de apoio. O tronco é flexionado durante o contato em velocidades maiores de
corrida, e em velocidades menores, o mesmo estende-se no momento do contato.
Para um ciclo completo de corrida, o troco move-se para frente e para trás por
dois ciclos. Ocorre uma oscilação completa de um lado para outro em cada ciclo
da corrida. Quando é feito o contato com o solo, ocorre um disparo da atividade
muscular do longuíssimo e multífido. Essa atividade pode iniciar exatamente
antes do momento do contato, geralmente com uma contração ipsolateral para
controlar a inclinação lateral do tronco e é seguida por uma contração dos
músculos eretores da espinha contralateral, de modo que ocorre a co-contração de
ambos. Um segundo disparo de atividade nesses músculos ocorre no meio do ciclo
com o contato do outro membro, tanto o longuíssimo quanto o multífido ficam
ativos novamente. No primeiro disparo de atividade muscular, os músculos
ipsolaterais ficam mais ativos, no segundo disparo predominam os músculos
contralaterais (HALL, 2000; HAMILL; KNUTZEN, 1999).
A atividade dos
músculos eretores da espinha coincide com a atividade extensora nas articulações
do quadril, joelho e tornozelo. Os músculos lombares servem para restringir a
locomoção controlando a flexão lateral e a flexão do tronco para frente. Os
músculos cervicais servem para manter a cabeça na posição ereta sobre o tronco e
não ficam ativos quanto em outras proporções da coluna (HAMILL; KNUTZEN,
1999).
A técnica de um corredor muda quanto mais rápido ele corre.
Corredores velocistas gastam mais tempo no ar do que os corredores de longas
distâncias, além disso, eles fletem e balançam os braços mais vigorosamente, têm
uma elevação maior de joelho, um maior impulso da perna e uma flexão mais
elevada da mesma. Corredores de longa distância utilizam menos movimentos de
braço, mas tendem a balançar os ombros mais do que os de curta distância. Quanto
maior a distância, há confiança na resistência cardiovascular e no ritmo. Todos
corredores devem manter seus troncos perpendiculares ao solo (CARR,
1998).
2 METODOLOGIA
2.1 Delimitação do Estudo
Este é um
estudo prospectivo de campo associado com pesquisa bibliográfica, estando
inserido em uma abordagem quantitativa e qualitativa, realizado através de
estudo sistemático, descritivo e observacional, a partir de dados colhidos dos
atletas durante realização das práticas.
2.2 Período de Desenvolvimento
da Pesquisa
O estudo em questão foi desenvolvido no período de agosto a
novembro de 2002, sendo que a coleta de dados foi realizada durante o período de
14 a 21 de Setembro do mesmo ano.
2.3 Caracterização da Amostra
A
amostra constou de dez indivíduos do sexo masculino, atletas com faixa etária
entre 15 e 25 anos. Estes foram avaliados na pista de atletismo da Universidade
Tiradentes, localizada no Campus II, tendo como requisito para a participação da
pesquisa ser corredor de atletismo e praticar regularmente este esporte, visando
competições.
A inclusão dos indivíduos na amostra foi regida pelos
seguintes fatores: faixa etária, sexo, cor, peso, condicionamento e modalidade
esportiva.
Os atletas que apresentaram alguma alteração como sensação de
queimação prolongada, lesões cutâneas nos MMII, hipertermia, resfriado,
diabetes, hipertensão, fenômeno de Raynaud, hipoestesia, problemas coagnitivos,
déficit de comunicação, foram excluídos da amostra.
2.4 Coleta de
Dados
Para coleta de dados foi utilizada uma ficha de avaliação (em
anexo), onde constava dos seguintes itens: data da entrevista, nome, idade,
sexo, cor, peso, tempo de prática de atletismo, freqüência e duração dos treinos
de atletismo, modalidade do atleta, última marca atingida, patologias associadas
ao esporte, patologias correlacionadas ao frio, alterações ortopédicas, exame
físico, onde estão inseridos inspeção, palpação e sinais vitais. Sendo estes
aferidos antes e depois da primeira corrida de cem metros (linha reta ou em
ziguezague), depois da corrida de cem metros imediatamente após o gelo, e depois
da corrida realizada com 30 minutos após a aplicação do gelo. Ainda foi
utilizado na ficha de avaliação registro das marcas atingidas na corrida de cem
metros iniciais (linha reta ou em ziguezague), após crioterapia e passados 30
minutos da aplicação do gelo.
2.5 Análise Estatística
A partir do
levantamento dos dados colhidos na avaliação dos atletas, as marcas atingidas na
corrida de linha reta e ziguezague, assim como os sinais vitais, foram
calculados de acordo com o número de atletas avaliados. Analisou-se o
desenvolvimento motor dos atletas e a incidência de alterações dos sinais vitais
com o exercício tomando como base a amostra.
2.6 Materiais
3 RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Foi realizado um trabalho prático em que houve a utilização de
uma amostra de atletas do sexo masculino, cor morena, com idade média de 20
anos, peso médio de 55 kg, com freqüência de treino de cinco dias úteis
semanais. Nesta pesquisa foi observado o comportamento prévio e pós crioterápico
dos indivíduos participantes, onde foram obtidas mensurações relacionadas às
marcas registradas individualmente, freqüência cardíaca, pressão arterial média,
freqüência respiratória e temperatura corporal.
Ao analisarmos essas informações, observou-se que os resultados
estabelecidos estão de acordo com o referencial bibliográfico encontrado.
Segundo Knight (2000), a velocidade de condução dos nervos motores é reduzida
pelo frio, um fenômeno que parece dever-se ao aumento do limiar do nervo à
estimulação. Mense (1978) afirma que o gelo quando age diretamente no fuso
muscular e no órgão tendinoso diminui as aferências nervosas e,
conseqüentemente, a contração muscular. Rodrigues (1995) diz que o uso da
terapia fria favorece o aumento do período refratário, reduzindo assim a
velocidade do impulso nervoso.
Segundo Andrews (2000) a transmissão
nervosa pode ser reduzida em até 29,4% após uma aplicação fria de 20 minutos,
com a condução continuando deteriorada até certo ponto por até 30 minutos após
ter sido removido o gelo. Denny-Brown et al. (1945), apud Knight (2000) e
Rodrigues (1995) constataram que a condução nervosa é bloqueada em temperatura
inferior a 10ºc e que o bloqueio era dependente do tempo de aplicação, ou seja,
quanto maior o tempo de aplicação a uma determinada temperatura baixa, maior a
perda da função. Já Starkey (2001) concluiu que o frio diminui a velocidade de
condução nervosa, tornando mais lenta a comunicação na sinapse e, em certos
casos, isso pode lavar a neuropraxia (perda temporária da função em um nervo
periférico) e axoniotmese (dano ao tecido nervoso sem rompimento físico do
nervo). Para Faulkner et al. apud Guirro (1999) a insuficiência, contenção ou
restrição da performance muscular e da atividade elétrica muscular aparenta ser
dependente da velocidade, pois exercícios rápidos de grande velocidade, são mais
afetados pelo resfriamento do que os de menor velocidade, sugerindo assim que as
fibras musculares de contração são mais susceptíveis ao resfriamento.
Segundo Guyton
(1998), a freqüência cardíaca representa o número de vezes que o coração pode
contrair-se para ejetar um volume sangüíneo em um determinado tempo. Durante a
atividade física há uma grande necessidade de aporte de oxigênio pela
musculatura envolvida no exercício. É em conseqüência disso que há um aumento da
freqüência cardíaca para ejeção de maior volume sangüíneo. O’sullivan (1993)
afirma que múltiplos fatores irão influenciar a freqüência cardíaca como: idade,
sexo, estado emocional e o nível de atividade física.
Segundo Powers e Howley (2000), a pressão arterial
é a força exercida pelo sangue contra as paredes arteriais, determinada pela
quantidade de sangue bombeado e pela resistência do fluxo sangüíneo. Ela
apresenta dois picos importantes, sendo conhecidos como sistólica que é a
pressão gerada quando o sangue é ejetado do coração durante a sístole
ventricular, e a diastólica que é a pressão gerada reduzida durante o
relaxamento ventricular (diástole). Knight (2000) afirma que quando se aplica o
gelo há imediatamente uma vasoconstricção local, favorecendo a um aumento da
resistência vascular periférica.
Segundo O’sullivan (1993), a temperatura
corporal representa um equilíbrio entre o calor produzido ou adquirido pelo
corpo e a quantidade perdida. A exposição a extremos de frio acarreta numa
redução da temperatura corporal denominada hipotermia. Com uma prolongada
exposição ao frio, ocorre uma queda na velocidade metabólica e a temperatura
corporal gradativamente decai. Em contrapartida, durante o exercício há um
aumento significativo da temperatura do corpo devido à aceleração do
metabolismo. Guyton (1998) também afirma que com o exercício ocorre aumento da
temperatura do corpo devido à liberação de energia proveniente do metabolismo
que é convertida em calor corporal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir
deste trabalho prático realizado ficou comprovado que na amostra a crioterapia
influencia, favorecendo a redução do desempenho motor. Através de análises dos
resultados, verificou-se uma compatibilidade com os autores citados no
referencial bibliográfico. Sugere-se que outros trabalhos enfoquem e explorem
ainda mais a modalidade crioterápica e a sua influência de forma direta no
desempenho desportista de atletas. E que estas novas pesquisas englobem o maior
número de indivíduos participantes, para que os resultados obtidos tenham uma
maior e melhor fidedignidade.
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Monografia apresentada à Universidade Tiradentes, Centro de
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